Das paisagens húmidas e secas - mares, rios, desertos e cidades – vêm contos de desaparecimento e ressurgimento que revelam a duradoura relação dos seres humanos com o seu meio ambiente. A água, nas suas diversas formas, e sendo um dos mais importantes elementos para a sobrevivência das espécies, há muito fascina cientistas, filósofos, contadores de histórias, historiadores e escritores, que procuram dar-lhe um nome, uma consistência, uma forma, para compreender o seu simbolismo. De acordo com inesgotáveis evidências científicas, e quando abordada de uma perspetiva antropocêntrica, a água está no centro das crises ambientais e dos mais significativos conflitos políticos contemporâneos.
Neste programa, as imagens compiladas das cisternas de Alexandria narram sonhos coletivos no Egito, que nunca se concretizaram. Também do Egito surge outra reconstituição histórica que retrata a grande inundação do delta do Nilo, de acordo com as profecias bíblicas de Nabi Daniel. Enquanto isso, numa cidade desconhecida desprovida de vida humana, uma planta tem sonhos recorrentes sobre ‘o último observador.’ Mais longe, no deserto marroquino, um homem escava a terra incessantemente para restaurar antigos sistemas de água, enfatizando a importância das técnicas ancestrais para a sobrevivência da sua comunidade.
Numa tapeçaria de narrativas, surge um fio condutor comum: a intrincada ligação entre mitos e destinos. As histórias espelham a resiliência, adaptabilidade e a luta da humanidade pela sobrevivência, entre desafios naturais, sociais e políticos. As obras falam sobre eventos que ocorreram em diferentes tempos e diferentes lugares, desvendando as modalidades de transmissão e mitificação da história através da tradição oral ou projetada nos écrãs dos media modernos.
Este programa apresenta, através de vários géneros e formatos, o emaranhamento da história e dos mitos, usando material de arquivo, found footage, imagens reconstruídas e narrativas, como forma de gerar novas mitologias e imagens sobre a água e sua representação política e poética. (Laila Hida)
From the wet and dry landscapes - deserts, seas, rivers, and cities - tales of disappearance and appearance reveal the enduring relation of humans to their environment. Water in its diverse forms as the most important element for the survival of different living species, has long fascinated scientists, philosophers, storytellers, historians, writers who sought to give it a name, a consistency, a shape, to grasp its symbolism. Despite the fact, according to scientific evidence to be inexhaustible, it remains inevitably at the heart of the most significant contemporary environmental crises and political conflicts when approached from the anthropocentric perspective.
Here, some compiled images of Alexandria’s cisterns narrate collective dreams in Egypt that never came to fruition. There, another historical re-composition depicts the great flooding of the delta through the biblical prophecies of Nabi Daniel. Meanwhile, in an unfamiliar city devoid of human life, a plant experiences recurring dreams about a ‘last observer.’ Further away, in the Moroccan desert, a man tirelessly excavates the earth to revive ancient water systems, emphasizing the significance of ancestral technologies for the community’s survival.
In a tapestry of narratives, a common thread surfaces: the intricate bond between myths and fates. The stories mirror humanity’s resilience, adaptability and struggle in navigating survival amidst natural, social, and political challenges.They speak about events that took place in different times and places, perhaps simultaneously, uncovering the modalities of transmission and mythification of history passed down through oral tradition or projected on the screens of modern media.
The selection here presents, across various genres, the entanglement of history and myths, using archive material, found footage, recomposed images, and storytelling to generate new mythologies and imagery on water and its political and poetical representation. (Laila Hida)