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Curadoria
Isabel Nogueira
22 Agosto
às

18h30

Local
Conversa Aberta

Nos anos 60, o movimento geral da neovanguarda internacional - incorporador de movimentos artísticos mais circunscritos, tais como, a Pop art, a arte minimal ou a arte conceptual - propõe um filão revolucionário nas gramáticas artísticas. Simón Marchán-Fiz (Del arte objetual al arte de concepto, 1990) ou Harold Rosenberg (The De-Definition of Art, 1972) referem-se, e bem, a uma arte “desestetizada”, isto é, à incorporação na arte de aspectos considerados originalmente “extra-artísticos”, tais como, aspectos antropológicos ou sociológicos, inclusivamente, a própria apresentação do objecto vindo directamente do mundo comum, herança, claro, de Marcel Duchamp. A premissa de que “a arte é a vida” tornar-se-ia determinante e os suportes e as linguagens misturam-se de modo assertivo e sem retorno. Neste contexto, destaca-se o vídeo, inicialmente ligado à performance e à body art, que revolucionou a relação, praticamente sem mediação, com o mundo.

O início da videoarte situa-se na cena artística nova-iorquina, mas também na cidade de Colónia, na Alemanha, nomeadamente no estúdio da artista plástica Mary Bauermeister, onde também eram apresentados trabalhos de John Cage, Nam June Paik, ou do próprio Stockhausen, companheiro daquela. Às novas experiência de sons, tempo e manipulação, juntava-se dança, texto, pintura ou projecções. Em 1963, o casal Jährling convidava Paik para mostrar o seu trabalho na sua casa em Wuppertal, conhecida como Galerie Parnass. É aí que acontece a primeira performance pública de videoarte: Exhibition of Music – Electronic Television (entre 11 e 20 de Março de 1963). John Anthony Thwaites descreveu o evento do seguinte modo: «Todas [as televisões] estão sintonizadas no mesmo canal, e em cada set televisivo aparece uma imagem diferente ou uma interferência: uma tem linhas ondulantes; outra, faixas. (…) Mr. Paik está sentado, com um sorriso amistoso, e observa os sets televisivos. A sala está cheia de murmúrios, zumbidos e estalidos» (Deutche Zeitung. N.º 84, April 1963). Do mesmo ano (1963) data o notável trabalho Sun in your head (television décollage), de Wolf Vostell, e as problemáticas que coloca com a imagem tremida e manipulada. No Outono de 1965, aquando da visita a Nova Iorque do Papa Paulo VI, Nam June Paik utilizava o modelo portátil da “Sony” para gravar o evento. Outras versões afirmam que o modelo só estaria disponível dois anos depois e que, portanto, isso não teria podido suceder assim.

De qualquer modo, a arte e a vida em tempo real – filmagens não editadas – ficaram próximas. Deste momento aos nossos dias foi um ápice. A videoarte continua a ter um lugar relevante, que o FUSO sempre procurou divulgar e incrementar. Este ano, a videoarte constitui-se, ela própria, coma temática central desta Conversa Aberta.