Os seis vídeos apresentados neste programa, que pertencem à coleção do Centre National des Arts Plastiques (CNAP) ou foram apoiados por esta instituição, apostam na diversidade formal e deslizam entre diversos modos operatórios: ficção, performance e documentário. Como as facetas de um caleidoscópio, exploram diferentes enfoques plásticos, à volta de um denominador comum.
O eixo que os une é a areia, como espaço físico e mental. A areia que vai do deserto do Atacama até às margens do oceano, passando por Saqqarah, no Egito, forma paisagens distintas, metáforas do desaparecimento dos mundos, do nosso mundo e dos seus objetos. Estas paisagens são depositárias silenciosas de uma catástrofe iminente que nos espreita (Laurent Grasso). Mas, em contraponto, também enviam um sinal forte: a possibilidade, em meio ao caos do nosso mundo, de desvendar tesouros escondidos (Laure Prouvost), provocar o encontro entre contrários através de um esboço do infinito, como no vídeo de Paz Corona, despertar a memória de desastres passados e restituir, pela revelação da imagem, a memória ocultada (Bani Khoshnoudi) ou ainda evocar a indomável persistência daquilo que é vivo (Abdessamad El Montassir).
Esses filmes trazem mais perguntas do que respostas e abrem portas para paisagens sensíveis, que oscilam entre o visível e o invisível.
Como mostrar aquilo que escapa ao olhar?
Como escutar aquilo que só pode ser murmurado?
O que acontece às memórias bloqueadas, confiscadas?
Que forma dar ao esquecimento?
Estas obras despertam estas interrogações, convidando-nos a uma contemplação convexa, entre a ausência e a revelação.
Manuela Marques
The six videos selected for this program belong to the collection of the Centre National des Arts Plastiques (CNAP) or were funded by the institution. They embrace formal diversity and navigate across different operative modes: fiction, performance and documentary. Like the reflective surfaces of a kaleidoscope, they explore varied visual approaches, all revolving around a common denominator.
Sand acts as the pivotal element connecting the physical and mental dimensions of the works in this selection. The sand that stretches from the Atacama Desert to the shores of the ocean, passing through Saqqara in Egypt, shapes distinct landscapes which are metaphors for the disappearance of worlds, of our world and its objects. These landscapes are silent repositories of an impending catastrophe that looms over us (Laurent Grasso).
But, in contrast, they also send a powerful signal: the possibility, amid the chaos of our world, of uncovering hidden treasures (Laure Prouvost); of triggering encounters between opposites offering a glimpse of the infinite, as in Paz Corona’s video; of awakening the memory of past disasters and restoring suppressed memories revealed by images (Bani Khoshnoudi). Or even of evoking the untamed persistence of what is alive (Abdessamad El Montassir).
These films pose more questions than give answers, but they open doors to sensitive landscapes which oscillate between the visible and the invisible.
How can we show what eludes the gaze?
How can we hear what can only be whispered?
What becomes of blocked or confiscated memories?
What form can be given to forgetfulness?
These works put forth such questions, inviting us to a reflective contemplation that bridges absence and revelation.
Manuela Marques