Apresentada pela Bienal Walk&Talk (Açores), esta sessão propõe uma viagem audiovisual por práticas artísticas que se debruçam sobre territórios em transformação — geográficos, afetivos, espirituais, ecológicos e políticos. A seleção parte do tema da bienal de 2025, Gestos de Abundância, que desafia a perceção de escassez e reivindica práticas de comunalidade, interdependência e criação de mundos.
Quatro obras, quatro gestos distintos, traçam percursos entre a memória e o mito, a denúncia e o sonho, a terra e o corpo. Ecotone (Enar de Dios Rodríguez) propõe um ensaio visual sobre fronteiras e sistemas de controlo, entrelaçando natureza e cultura numa reflexão crítica sobre migração vegetal, agricultura extensiva e colonialismo, revelando o “desastre lento” causado pelos usos capitalistas da terra. Em Aclarar (Isabel Medeiros), a memória da erupção do Vulcão dos Capelinhos transforma-se num gesto fílmico onde imagem e arquivo explodem em simultâneo — uma exploração sensível da materialidade do esquecimento e do próprio tremor. Portal (Jane Jin Kaisen) invoca uma mitologia insular e cosmológica, dissolvendo as fronteiras entre pedra e pele, corpo e paisagem, num fluxo de imagens que pulsa como matéria viva e poética. A fechar, Soy Much (Soya the Cow) explode num manifesto queer camp que celebra a liberdade, a autoexpressão e a abundância dos corpos não normativos — humanos e não humanos
Esta sessão traça linhas de afinidade que são simultaneamente conceptuais e sensoriais: todas as obras envolvem um gesto de deslocamento e de escavação, seja do território, do arquivo, da linguagem ou do corpo. Há uma escuta atenta ao mundo natural e às suas camadas simbólicas, uma vontade de reencantar o olhar e de provocar fricções entre crítica e afeto. As geografias são diversas — dos Açores à Coreia, da Catalunha à Suíça —, mas os gestos tocam-se na procura de um cinema que expande a imagem como pensamento poético e político.
Presented by Walk&Talk Biennial (Azores), this screening invites viewers on an audiovisual journey through artistic practices that explore shifting territories — geographic, affective, spiritual, ecological, and political. The selection is rooted in the theme of the 2025 biennial, Gestures of Abundance, which challenges the perception of scarcity and reclaims practices of communality, interdependence, and world-making.
Four works, four distinct gestures trace pathways between memory and myth, critique and dream, land and body. Ecotone (Enar de Dios Rodríguez) presents a visual essay on borders and systems of control, weaving nature and culture into a critical reflection on plant migration, large-scale agriculture, and colonialism, exposing the “slow disaster” caused by the capitalist exploitation of land. In Aclarar (Isabel Medeiros), the memory of the Capelinhos volcanic eruption becomes a cinematic gesture where image and archive erupt simultaneously — a sensitive exploration of the materiality of forgetting and the tremor itself. Portal (Jane Jin Kaisen) invokes an insular and cosmological mythology, dissolving the boundaries between stone and skin, body and landscape, in a flow of images that pulses as living and poetic matter. Closing the program, Soy Much (Soya the Cow) bursts into a queer camp manifesto celebrating freedom, self-expression, and the abundance of non-normative bodies — both human and non-human.
This session draws lines of affinity that are both conceptual and sensorial: each work involves a gesture of displacement and excavation — of territory, of archive, of language, or of the body. There is a deep attentiveness to the natural world and its symbolic layers, a desire to re-enchant perception and to provoke friction between critique and affection. The geographies are diverse — from the Azores to Korea, from Catalonia to Switzerland — yet these gestures converge in their pursuit of a cinema that expands the image as poetic and political thought.